terça-feira, 3 de dezembro de 2013

 
Dica de leitura para o mês de dezembro
 
 
 
"As vezes as coisas coincidem com a ideia que fazemos delas; às vezes não. Quase sempre não, mas aí o tempo já passou, e então nos ocupamos de coisas novas, que se encaixam em outras famílias de ideias. Ele não quis nem saber se será um filho ou uma filha: a mancha pesada da ecografia, aquele fantasma primitivo que se projetava na telinha escura, movendo-se na escuridão e no calor, não se traduziu em sexo, apenas em ser. Preferimos, não saber, foi o que disseram ao médico. Tudo está bem, parece, é o que importa" 

O nascimento de um filho como momento de ruptura na vida de um casal. Uma criança desejada, mas diferente. Nas palavras do pai, na tímida tentativa de explicar para os conhecidos, nos primeiros meses, uma criança " um pequeno problema. Ele tem mongolismo". De início, o estranhamento, e o pai, assume que a urgência não é resolver o tal problema da criança, mas o espaço que o filho ocupará na própria vida.
    E a criança o ocupa, ocupará pelo resto da vida. Num livro corajoso, Cristovão Tezza expõe as dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down. O périplo por clínicas e consultórios médicos numa época em que o assunto não era tão estudado e ainda tinha o véu do misticismo, a tensa relação inicial com a mulher. "Numa das crises, ela lhe diz, no desespero do choro alto: Eu acabei com a tua vida. E ele não respondeu, como se concordasse - a mão que estendeu aos cabelos dela consolava o sofrimento, não a verdade dos fatos.
    Aproveita as questões que apareceram pelo caminho nestes 26 anos de Felipe para reordenar sua própria vida: a experimentação da vida em comunidade quando adolescente, a vida como ilegal na Alemanha para ganhar dinheiro, as dificuldades de escritor com trinta e poucos anos e alguns livros na gaveta, a pretensa estabilidade com o cargo de professor em universidade pública.  
   Com precisão literária para encadear de maneira clara referências de anos e situações tão díspares, às vezes dentro do mesmo capítulo, Cristovão Tezza reforça, com a publicação de O filho eterno, seu lugar entre os maiores escritores brasileiros. 
 
Cristóvão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952, mas mudou-se para Curitiba ainda criança. É considerado um dos mais importantes autores da literatura brasileira contemporânea. Além de escritor, com mais de uma dezena de livros publicados, leciona na UFPR.
É autor, entre outros, de Trapo, O fantasma da infância, Aventuras provisórias, Breve espaço entre cor e sombra ( Prêmio Machado de Assis - Biblioteca Nacional de melhor romance de 1998) e O fotógrafo (prêmio da Academia Brasileira de Letras e Bravo! de melhor romance do ano). A publicação deste O filho eterno marca seu retorno à Record. 

   

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